Incidente

Estejamos sempre alerta, pois o presente sempre nos
revela surpresas, que percebemos tarde demais.
Notas de Sarayamma
O Mago Intrangisente

Naquela noite em fins do verão em Authuora, estava na ala sul do espaçoporto intergalático de Restplunj esperando a conexão de Vega – Signus IV, acomodado em uma das poltronas, um tanto impaciente.
Para um velho professor de história intergalática antiga, esperar naves hiperlú-micas eram enervantes, mas desta vez não havia como ser diferente.
A palestra proferida na Universidade Boreal foi muito produtiva e voltaria com novas experiências na bagagem pessoal. Muitos estudantes ainda têm idéias profun-das e instigantes. Ainda bem que sempre será assim. Tinha receios que no futuro a nossa evolução intelectual estagnasse, mas enfim, estes poucos criativos que ainda existem, me animaram muito.
- Então as ruínas de Spica V não revelaram nada?
- Sim, mas não...
Olhei incrédulo para o lado, onde em minutos antes não havia ninguém. Na i-mensa sala de espera, meus pensamentos ainda ecoavam nas paredes.
- Encontrei indícios que não se enquadram na história recente. Artefatos encon-trados na ala oeste das ruínas indicam que uma civilização mais antiga seja oriunda do perímetro do universo.
- Estavas em minha palestra na Universidade?
- Cheguei poucos minutos antes de terminar, mas consegui entender tuas con-clusões cerca de Beta Erydany. Gostei. Então deu o acaso de nos encontrarmos aqui no espaçoporto. Espero não estar importunando.
- Não. Pelo contrário. Poderias estender mais tuas idéias cerca da pesquisa que fizeste em Spica V?
- Talvez não muito, pois estou apressado e meu transporte irá sair daqui a pou-cos minutos. Mas gostaria que estudasse mais a fundo tuas teorias a respeito. Certa-mente vais tropeçar na verdade. Em uma das tuas idéias falas de se viajar ao longo do eixo do universo, em direção ao perímetro. Recomece tuas pesquisas deste ponto.
- Não sei exatamente do que estás falando. São muito vagas e gerais tuas pala-vras. Podes ser mais específico?
- Claro, mas não haverá tempo.
Nesse momento lembrei que teria que ir ao banheiro, após palestra não houve tempo. Pedi licença e me afastei. Antes de fechar a porta ainda o vi, acenando um a-deus. Após as urgências biológicas inadiáveis, retornei. Não havia ninguém.
Procurei nos terminais as informações sobre as ultimas partidas e nada. A últi-ma nave havia partido para a Terra, cerca de uma hora atrás.
Sentei pasmo. As idéias giravam em meu cérebro e as paredes acompanhavam.
Não me atrevo a dar uma explicação lógica. Muito menos uma mais espetacular ou fantasiosa. Apenas questiono o encontro inusitado.
Quem sabe foi só imaginação da minha parte. Certamente que foi isso.
Ao me virar para o lado onde encontro um pequeno livro, publicado por mim, em aspecto extremamente novo. A capa ainda brilhava. Meu primeiro livro de quarenta anos atrás.

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